sábado, 16 de fevereiro de 2013

 


 Meu quintal

odete ronchi baltazar

Procurei no meu quintal
companhia pra solidão.
Encontrei tanta coisa,
que só, não fico mais, não.

Por aqui tem cebolinha,
tem salsa, tem graminha,
tem boldo, tem hortelã,
alecrim, arruda e palhinha.

Vejam só esta amora
que delícia, que encanto!
É onde a borboleta mora
e a aranha tem seu canto.

A joaninha-sete-pintas
faz charminho toda prosa,
pousa no meu dedo, serelepe,
faz piruetas e vai simbora.

Tem caracol por todo lado que,
vagarosos, pacientes,
carregam suas casas
no meu mundo, tão contentes!

As cigarras, no verão,
zinem, trilam fazendo um barulhão.
E, à noitinha, sem faltar,
berra alto o cigarrão.

Azedinha, serralha, dente de leão...
- dizem ser ervas daninhas...
Pra mim são tão boazinhas!
Remédios pra minha solidão.

Brincando de casinha

odete ronchi baltazar

Minha casa tem jardim,
minha casa tem quintal,
minha casa tem cozinha,
minha casa tem varal.

Das ervinhas faço chá,
prá dor-de-tudo passar.
Dos legumes faço sopa,
prá ter saúde sem engordar.

Tudo fica tão gostoso,
quando estou no meu lugar,
que noutro quintal (nem pensar!),
não pretendo morar.

O canto do gato

odete ronchi baltazar

O meu gato é serelepe.
É dengoso e é moleque.

De manhã, quer leite e mia.
Depois, quer carinho, se arrepia.

À tarde, só dorme, vagabundo e preguiçoso...
O rato? - Que descanse, ocioso!

À noitinha, manhoso me arranha.
Quer comida, quer água, quer manha...

Logo, ronrona no meu colo, faceiro.
Estica o rabo, desliza fagueiro.

Mas, num instante, num repelão,
sai a caçar, trabalhar pro patrão!


 
O gato do canto

odete ronchi baltazar

É peludo?__Nem sempre...
Às vezes, é pelado
porque vive abandonado.

É vadio?__Quase sempre...
Com preguiça,
vive sempre enroscado.

É sujinho?__Nunca!
Asseado, passa a língua
do focinho ao rabo.

É dengoso?__Toda a vida.
Sem peixe,
fica logo emburrado.

Sabes de quem falo?
Se não é de ti, menino,
só pode ser do gato!


 


Bicho-da-goiaba

odete ronchi baltazar

Fui comer uma goiaba,
- que delícia!
madurinha...


Mas com essa eu não contava,
- oh que pena!
é que tivesse,
lá no meio,
uma feia minhoquinha.


ARG! eu não como essa coisa - tão feiosa e pequeninha.
Já pensou?
- esse bicho esquisito vai parar
lá na minha barriguinha...
Meu canto


odeteronchibaltazar


O sabiá come a banana,
o gaturamo, a sementinha,
o sanhaçu belisca a ameixa,
que está bem madurinha.


E o mamão amarelinho,
quem foi que aqui bicou?
Deve ter sido o tié,
que cedinho aqui passou.


Os pardais, nos beirados,
fazem alvoroço, alegram a casa.
Acordam cedo, muito animados,
felizes por terem asas.


E eu fico feliz
de morar neste recanto.
Tem deleites pra toda a vida,
felicidade por todo o canto.
 


O sapo

odeteronchibaltazar

Olhe o sapo
pula aqui
pula acolá.
Nos dois pés,
nas mãozinhas,
ou num pé só.

Coitadinho deste sapo
é tão feio de dar dó.
Salta longe,
pirueta,
dá um susto,
faz um nó.

Nesta lida,
engraçada,
o sapinho,
tão feinho,
conquistou-me
um sorrizinho...
amarelinho.

Mas, ó seu Sapo,
fique atento!
Se pular
perto da vovó,
tão medrosa,
coitadinha,
pode crer,
seu sapinho,
ocê vai virar pó.

O ninho da rolinha

odeteronchibaltazar

A rolinha, apressada,
fez seu ninho
nas folhas de tucum.


Tão precário o bercinho
pra filhotes tão grandões.
Fiquei logo preocupada
com a chuva aos borbotões.


Cada vez que ela chega,
co'a comida no seu bico,
um filhote, pobrezinho,
põe de fora seu bumbum.


Estou contente de montão
com a vizinha do meu quarto,
ao abrir, feliz, minha janela
dou bom dia para os quatro!


Pisca-piscam tão lindinhos,
no meu canto do jardim...


Tão contente fico eu
de morar neste recanto,
onde até os passarinhos,
vêm buscar, perto de mim,
um pouquinho de acalanto.

Menina-pimenta

Menina-pimenta

Para minha sobrinha Nina

odeteronchibaltazar

É pimenta,
pimenteira inteira,
apimentada e faceira.

Bem sapeca
e temperada
essa menina é danada.

Planta bananeira,
corre,
sacode,
pula e belisca,
quem puder que acompanhe,
mas duvido que alcance,
pois essa moleca nem pisca.

Como um raio,
pula na cadeira,
sobe no armário,
rouba a bolacha
e sai serelepe,
disparada em foguete,
parecendo um saci arteiro.

Essa menina dá uma canseira!
Mas não tem ninguém,
neste mundo,
mais doce,
ou mais meiga
que esta menina danada.

Dá um beijo,
se enrola no colo,
me abraça quentinho,
mas nem consegue falar.
Vencida pela soneira,
nem me deu um tchauzinho.